Todos nós, profissionais, gestores e militantes da causa da saúde no Brasil, sabemos quanto esforço já foi e é depositado no desenho de um sistema mais justo, igualitário e eficiente, que transforme verdadeiramente em prática a teoria do direito universal do cidadão aos serviços de assistência à saúde. E você deve concordar comigo: estamos sofrendo demais nesse processo.
A reforma do setor passa por mudanças políticas, econômicas e culturais que abrem espaço para a estruturação de um sistema preventivo em práticas de saúde, orientado não mais a estruturas e processos, e sim a resultados. Não há como se isentar - estamos todos envolvidos e somos todos responsáveis. Governos, universidades, instituições e indústria enfrentam o desafio de aceitar e viabilizar mudanças de atitude.
Depois de décadas defendendo a educação em torno da gestão da qualidade e segurança do paciente, não consigo pensar em algo mais desafiador do que romper com comportamentos. Os padrões de pensamento e conduta estão lá, gravados no indivíduo, agarrados a uma forma de fazer que não pode mais se sustentar. E isso inclui o próprio paciente. Afinal, quem o educou para que saiba utilizar o serviço de maneira correta?
Falta educação em saúde. Por todos os lados.
A reeducação econômica do sistema envolve, por mais sutilmente que pareça, a relação entre médico e paciente. Inserir o usuário dos serviços de saúde em seu diagnóstico e tratamento significa educá-lo, emponderá-lo com conhecimento e torná-lo um cocriador de seu bem-estar. Esse realinhamento do cuidado só tende a criar relacionamentos mais transparentes, éticos e duradouros, que naturalmente melhoram a tomada de decisão e alçam os resultados assistenciais.
Por isso, aqui no IQG, elaboramos 13 perguntas simples que o paciente pode e deve fazer ao seu médico, com o intuito de melhorar a comunicação entre os profissionais da saúde e os usuários do sistema. Então, que tal divulgá-las na instituição em que você trabalha ou lidera, como mais uma ferramenta na busca da segurança do paciente? Vamos à lista:
  1. Esse é o meu diagnóstico?
  2. Quais exames tenho que fazer e por que?
  3. Quando vou receber os resultados?
  4. Existem alternativas a esse tratamento?
  5. Posso esperar para decidir se inicio esse tratamento?
  6. Quais as perspectivas para o meu futuro (prognóstico)?
  7. Quantas vezes você já fez esse procedimento?
  8. Como se escreve o nome desse medicamento?
  9. Esse medicamento tem efeitos colaterais?
  10. Esse medicamento vai interagir com os medicamentos que eu já estou tomando?
  11. Tenho que alterar a minha dieta alimentar para que esses medicamentos façam melhor efeito?
  12. Esse tratamento interfere nas minhas atividades do dia a dia?
  13. Quais são as possíveis complicações desse procedimento ou tratamento?

Enquanto a condição de um paciente impotente e desinformado parecer vantajosa para alguma parte, não haverá resultado plenamente satisfatório e sustentável para ninguém. Somente uma entidade integrada proporcionará ganhos perceptíveis e o alcance dos objetivos que, enfim, nos aproximarão das grandes conquistas. Não vou negar: enxergar a longo prazo requer uma visão apurada e uma boa parcela de coragem, mas, quando atingimos esse estágio, os resultados se tornam consequências naturais.